sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Estruturas de Shows no Brasil

Live Music Rocks foi o evento que trouxe Arctic Monkeys
e The Hives a São Paulo
Resolvi escrever este post por causa da organização do show do Arctic Monkeys com abertura do The Hives que ocorreu dia 14/11/2014, uma sexta-feira, no Anhembi em São Paulo. Mas toda e qualquer preocupação que coloco neste texto pode e deve ser extrapolada a qualquer outro evento, de pequeno ou grande porte, onde um ingresso é vendido ao público em geral. Não basta vender o ingresso e cuidar para que a apresentação ocorra. É importante ter uma preocupação com toda a estrutura que cerca o evento e garantir uma boa experiência ao cliente, do momento em que ele sai de casa, até o momento em que ele volta. Digo isso como cliente e administrador.

Este show especificamente rolou no Anhembi e mesmo apesar de ter jurado de pés juntos a mim mesmo por várias vezes que não voltaria mais a shows lá, eu comprei os ingressos. Eu e minha noiva gostaríamos de ver o The Hives novamente e ele nunca tinha visto o show do Arctic Monkeys. Mesmo sabendo do caos que normalmente as coisas são no Anhembi, eu fui e não me arrependi pelo bom show do Arctic Monkeys, mas com certeza rolou muita coisa para se esquecer. Houve coisas boas também e não posso negar isso, mas foi um perrengue.

Anhembi (Sambódromo). A entrada do evento era feita no
trecho final da foto e o palco estava no que seria a
continuação do canto inferior esquerdo da foto
Tenho claro na minha cabeça que é uma escolha minha comprar um ingresso e ir a um evento. Ninguém me obrigou. Eu posso gostar ou odiar do que vou ver. Mas para mim a estrutura oferecida tem de ser boa, por obrigação e por respeito a quem compra algo que você está vendendo.

Quando se resolver produzir um evento é importante garantir que a chegada, a saída, a apresentação da banda/artista/grupo ou qualquer coisa que o valha, o tempo passado dentro do espaço do evento e tudo mais que eu esteja deixando escapar, sejam organizados e proporcionem uma boa experiência. Dentro disso, vou analisar alguns aspectos do que ocorreu na sexta-feira, dia 26/11/2014, no Anhembi e tentarei através deste texto buscar explicações da produtora do evento Live Music Rocks, que pelo me consta tem o mesmo nome (antes o evento era produzido pela XYZ Live, que não sei se existe mais, pelo menos com este nome).

Som
Começo pela parte boa. Em vários shows que eu fui no Anhembi, o palco ficava virado contra o sambódromo e o som sempre foi horrível. Desde a última edição do Monsters of Rock, o palco foi virado na direção do sambódromo, com a entrada pelo mesmo. Desde então a qualidade do som, principalmente falando de volume, melhorou bastante. Então ponto para a produtora. E acho que para por aqui.

Lição que tiramos daqui: usem sempre o palco neste sentido.

Data, Horário e Transporte para o Show

Fazer um show em São Paulo em uma sexta-feira por si só já é algo arriscado. Posts da própria Live Pass, empresa que comercializou os ingressos dos shows, falavam do trânsito de São Paulo e o cuidado para não se atrasar. Ao meu ver eventos deste porte não deveriam acontecer em uma sexta-feira em São Paulo. O horário de início, 21:30, estava ok. Poderia ser mais tarde para ajudar o público a chegar na hora, mas ok.

The Hives (Foto: UOL)
Para estar em um show às 21:30 de uma sexta-feira em São Paulo, me programei para sair de casa às 20 horas, o que fiz. Pensei em ir de ônibus, mas demoraria. Pensei em ir de taxi, mas a volta de taxi é uma missão quase impossível depois de um show em São Paulo. Os motoristas tentam cobrar tarifas fora do taxímetro, nenhuma produtora nunca conseguiu organizar um bolsão de veículos e uma fila de clientes, onde os carros chegam, pegam o primeiro da fila e com a quantidade de taxis em São Paulo, seguramente a fila andaria rápido. Como pode-se demorar horas até conseguir um taxi na volta, optei por não usar este meio de transporte.

Pensei em ir de metrô, mas o problema da volta seria o mesmo, uma vez que o metrô fecharia antes do fim do show, que terminou meia-noite e meia. Sobrou a opção de ir de carro, que era a última que eu queria, pelo fato de que estacionar no Anhembi é sempre um inferno. Já passei por boas experiências neste sentido, mas na maioria dos casos, é sempre complicado.

Lição que tiramos daqui: evitem fazer shows de grande porte em uma sexta-feira em São Paulo. E caso o façam, considerem as atrações tocando num horário mais tarde. Ainda sim, não deixem de pensar em organizar a ida e a volta das pessoas, tentando sempre priorizar o transporte público. Negociar com a prefeitura horário estendido de funcionamento do metrô (acontece para outros eventos) e organizações dos taxis da região, com fiscalização no local e boa sinalização.

Estacionamento
Saindo de carro às 20 horas de casa e com auxílio do aplicativo Waze, que me mandou fazer um caminho nunca antes feito da minha casa até o Anhembi, cheguei no local pouco antes das 21 horas. Ao meu ver, tinha chegado em um horário perfeito para conseguir estacionar e entrar para ver o show do The Hives.

Ao chegar peguei um trânsito enorme no sentido inverso da entrada do estacionamento (sim, só havia um disponível). Havia apenas um retorno e com uma fila de carros que não andava, pois o trânsito do outro lado, no sentido do estacionamento, era ainda pior em um trecho que tinha uma quantidade menor de faixas de rolamento. Fui fazer a volta dentro do bairro o que provou-se mais rápido que o retorno na própria avenida.

Arctic Monkeys (Foto: G1)
Diante do caos do trânsito, considerei a possibilidade de pagar a um flanelinha, que me cobraria R$ 30,00 e estacionar em local proibido, na rua (em cima de uma calçada). Minha sorte foi que ao tomar a decisão, vi dois agentes da CET multando os carros que lá estavam. Com isso minha péssima decisão foi abortada e voltei ao trânsito em direção ao único estacionamento disponível (o do Anhembi, que é enorme diga-se de passagem).

Uma vez no coração do engarrafamento, a coisa até que não demorou tanto e rapidamente pude observar que a maior parte do engarrafamento se dava porque os carros embicavam em uma rua que não era possível de entrar e não havia nenhum agente da CET e nem da organização do evento orientando os motoristas. Passei vários pela faixa da esquerda e cheguei a entrada do estacionamento. Aí um agente da CET orientava os motoristas que chegavam em fila única, a distribuir-se por pelo menos 5 filas.

O tempo gasto em uma destas 5 filas foi brutal. Eram 5 filas, que depois afunilavam em três filas para passar pelas cancelas (eram 6, mas apenas 3 disponíveis). Depois disso, estas 3 filas abriam em 5 dos guichês para pagamento antecipado do estacionamento, que pasmem, saía pela bagatela de R$ 70,00, em dinheiro ou cartão. Seguramente foram cerca de 30 minutos só nesta fila.

Confesso que me incomoda demorar tanto tempo para entrar em um estacionamento, não ter orientação e pagar R$ 70,00 para parar o carro. De novo, sei que a escolha em ir de carro foi minha, mas espero melhor organização do evento. Pelo que pesquisei, o valor é definido pela prefeitura. Ponto negativo para a prefeitura, para a produtora que poderia ter negociado o valor e na impossibilidade de negociar o valor, poderia ter pelo menos facilitado a entrada.

Por causa deste trampo todo, só consegui estacionar pouco depois das 22 horas. Isto é, demorei mais tempo no local tentando estacionar que levei para chegar ao local. E com isso perdi o show do The Hives, o que pra mim é inadmissível: perder parte da apresentação que paguei para ver por falta de organização.

Lição que tiramos daqui: é preciso organizar o trânsito em conjunto com a CET (mas não deixar tudo nas mão dela). Um retorno só em uma avenida grande não faz sentido. Engarrafamento pelas pessoas estarem tentando entrar no lugar errado também não faz sentido. Se existem 6 cancelas, é preciso usar todas e não causar mais filas afunilando o trânsito. É preciso pensar em agentes vendendo a entrada no estacionamento na fila (algo como pré-pago), agilizando o processo de entrada dos carros. E o preço pornográfico de R$ 70,00 não pode existir. Isso precisa ser revisto com urgência pela prefeitura, produtora ou ambas.

Entrada
Mapa de funcionamento do Live Music Rocks Arctic
Monkeys  e The Hives
Durante a saga do trânsito, vimos uma fila gigantesca para entrar. Depois de estacionar, nos encaminhamos para a entrada e a fila gigantesca continuava e fazia volta.

A única entrada para a pista normal do evento era no portão 22 do Anhembi, que fica na extremidade oposta do palco. A fila saía deste portão, ia até o palco, fazia uma curva e voltava mais uma parte do sambódromo.

Muita gente também perdeu o show do The Hives por estar na fila. O show começou 21:30 e terminou 22:30 e teve gente que passou este tempo todo na fila. Eu cheguei na fila as 22:30 e mesmo depois do show acabado, ela era gigante. Isto é, as pessoas começaram a chegar antes do show, continuaram durante e depois do show e a organização foi incapaz de resolver o problema da fila.

Pelo que me consta, que vi e me foi dito, o problema estava no fato de que todos tinham de entrar por um portão pequeno, afunilando, desta vez a multidão, e evitando a agilidade do processo.

Algo foi feito, pois depois das 22:50 a fila começou a andar muito rápido (literalmente correu em alguns momentos). Depois de duas revistas na mochila (uma não basta pelo visto) e ter minhas barrinhas de cereal confiscadas (espero que estivesse nos termos e condições da compra do ingresso a impossibilidade de entrar com estes itens no evento. Não sei, pois não fui confirmar depois), conseguimos entrar no show as 22:05, quando o Arctic Monkeys, já no palco, começava a primeira música. Isto é, demorei pouco menos de uma hora para chegar ao local do evento e duas horas entre estacionar e entrar no show.

Não houve tempo de comer, beber, ir ao banheiro, nem nada. Foi o tempo de ver o show, que durou 90 minutos (muito curto na minha opinião para um show daquele porte e valor) e ir embora, buscar meu carro no estacionamento mais caro que paguei na vida.

Lição que tiramos daqui: não se pode ter uma única porta de entrada em um evento tão grande e que possibilita a entrada por diversos pontos. Não se pode afunilar uma multidão tão grande. E por fim, a organização tem de ser capaz de tomar atitudes rapidamente, para que problemas assim sejam resolvidos e que o público não deixe de consumir aquilo pelo que pagou.

O show apesar de curto, no meu ponto de vista, foi muito bom. Na saída foi tudo tranquilo, com as saídas de emergências também disponíveis para dispersão do público. O estacionamento já pago e com duas saídas (contrastando com a entrada única e desorganizada), conseguiu dar vazão aos carros rapidamente. Mas o que ficou foi um gosto amargo de ter sido desrespeitado enquanto consumidor.

Isto vale para a maioria dos eventos em São Paulo e no Brasil (tendo, claro, exceções). É preciso pensar um pouco além e respeitar quem paga para consumir o entretenimento. E com base no meu sentimento de frustração, vou buscar respostas da produtora do evento e caso seja necessário, meu dinheiro de volta (nem que seja parte). Eu me diverti sim, mas ainda sim acho que todos que foram impactados merecem pelo menos uma explicação do que aconteceu. 

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