quarta-feira, 15 de junho de 2016

Bachiana Filarmônica SESI-SP - 14/06/2016

Que eu sou apaixonado por música, acho que o blog já deixa claro. Que eu sou apaixonado por qualquer tipo de música, nem sempre foi uma realidade.

Foto: http://www.fundacaobachiana.org.br/

Já comentei no post sobre o show de Caetano e Gil que já fui uma pessoa mais preconceituosa em relação a estilos musicais que não aprecio, mas com a vivência de algumas experiências e com a vida passando, aprendi a respeitar muita coisa.

Isso passa também pela música clássica. Não é um tipo de música apreciada pela grande maioria dos jovens. E eu fui um deles, que morria de tédio cada vez que meu pai colocava uma fita de música clássica no carro. Mas um dia ele resolveu levar a mim e a minha irmã (que já tocava guitarra) para ver a Orquestra Filarmônica de Brasília no Teatro Nacional. E no momento eu achei muito chato. Mas lembro que no dia seguinte algo estalou em mim e comentei com a minha mãe: "acho que entendi melhor. Não foi tão chato assim".

De lá para cá meus contatos com a música clássica foram muito pontuais, como a participação de orquestras em shows de bandas de rock/pop e alguns outros concertos, com destaque para a apresentação da Filarmônica de Chicago na própria cidade e da OSESP na minha primeira visita ao Teatro Municipal de São Paulo.

E nessas oportunidades as apresentações continuam me dando sono. Mas não por tédio e sim pelo fato de que a música clássica relaxa minha cabeça totalmente. Já escrevi isso aqui também e volto a repetir: a música clássica tocada ao vivo é o som mais limpo/livre/vivo/cristalino que eu já ouvi na minha vida. Parece que é a coisa verdadeira. A origem de tudo. Cada nota entra com suavidade nos ouvidos. E apesar de não ser um tipo de música que eu goste de ouvir em casa, o prazer ter ouvir e ver isso ao vivo tem se tornado cada vez maior.

Foto: http://www.fundacaobachiana.org.br/
E aí entra na cena a minha esposa, Marina, que me proporcionou basicamente todos os meus últimos concertos comprando os ingressos como presente, seja pela concerto, seja para conhecer o Teatro Municipal ou a Sala São Paulo. E em março deste ano, já de dia dos namorados, ela comprou dois ingressos para que pudéssemos ver o maestro João Carlos Martins na Sala São Paulo. Ela já o tinha visto no Lincoln Center em NY e de acordo com ela, foi emocionante. E eu, convidado para mais este espetáculo, esperava só uma noite de boa música. Que engano o meu... Narro a partir de agora uma das noites mais emocionantes da minha vida.

A primeira grande diferença na apresentação da Bachiana Filarmônica SESI-SP regida pelo Maestro João Carlos Martins é o fato de que ele interage com o público. Apresenta a obra, os autores, fala das adaptações feitas por regentes e orquestras e fala da sua missão de popularizar a música clássica.

A apresentação da noite fez parte da série que aborda a história da música clássicas nas Olimpíadas. Nesta noite específica foram tocadas peças criadas por encomenda. E para aquecer, uma peça de apenas 2 minutos regida por ele mesmo. Depois uma obra de Aaron Copeland chamada 'El Salón México' foi regida pelo maestro associado da orquestra. Foi uma pequena introdução de uma grande noite devido à sua dinâmica.

A terceira peça da noite foi a estreia mundial da obra Olimpíada Rio 2016, criada por Edmundo Villani-Côrtes, que estava na plateia vendo tudo. A orquestra acompanhada por pandeiro, cuíca e outros instrumentos de percussão, englobando trechos de 'Cidade Maravilhosa' é uma obra prima. Digna de um orgulho que lutamos para ter do nosso país. Belíssima obra, com aplausos mais que merecidos ao autor ao final.

Na volta do intervalo, buscando popularizar ainda mais a música clássica e fazendo um link com os jogos olímpicos, o maestro nos apresentou um atleta olímpico que pediu a torcida da plateia. Achei uma forma simpática de aproximar as duas coisas. Mas depois disso veio o melhor susto. Como chegamos na pressa e sem pegar o programa, não sabíamos o que viria. Mas veio, João Carlos Martins regendo a trilha sonora inteira de Star Wars, composta por John Williams. Se a Marina chorou com o tema das Olimpíadas, desta vez foi minha vez de chorar, como bom nerd que sou. Foi lindo... Dois momentos: o início e a 'Marcha Imperial'! Indescritível a sensação de ouvir aquilo e lembrar dos personagens e dos momentos de todos os filmes. Muito legal também ver o sorriso no canto da boca das pessoas vendo aquilo.

Foto: http://www.fundacaobachiana.org.br/
E a noite que para mim já estava de ótimo tamanho, ainda não havia acabado. João Carlos Martins convidou ao piano, para tocar uma peça solo, um músico que foi seu dublê de mãos no filme que será lançado sobre a sua vida. Eder Pessoa tocou uma pequena peça e foi lindo. Lindo também foi ver o afeto dele com o maestro, que explicou que ele quis desistir de participar do filme e só participou por insistência do próprio maestro que comprovou sua qualidade musical.

Para finalizar, a orquesta, regida pelo mestro associado tocou dois clássicos do rock: 'Yesterday' dos Beatles e 'Love of My Life' do Queen. E com João Carlos Martins tocando piano, com todas as suas dificuldades*, que tornam-se ainda maiores a cada dia. Na sua cara, pura emoção e esforço para tocar aquelas duas músicas. Para nós, sorrisos, lágrimas e felicidade, por ter tido a oportunidade de ver tamanho espetáculo.

João Carlos Martins me aproximou da música clássica. E tenho certeza que seguirá fazendo isso por muito tempo com diversas outras pessoas. Ele merece todas as palmas que o Brasil tem para lhe dar.

PS: não há fotos e vídeos por respeito ao espetáculo. Mas não nego que quis filmar a execução de Star Wars inteira.

* Para quem não conhece a história de João Carlos Martins, ele foi um grande pianista e ainda é um grande maestro, mas com diversas dificuldades nos movimentos das mãos. São tantos os problemas que tentaram pará-lo, que mais fácil que vocês leiam no Wikipedia sua história, pois caso contrário, este texto ficaria ainda mais longo. Mas o mais importante, é que mesmo com todas as dificuldades, ele segue regendo, segue tocando e segue sua missão. Mais palmas para ele.