quinta-feira, 28 de maio de 2015

Sharon Jones and The Dap Kings - 27/05/2015

Sharon Jones apresentando-se no Bourbon Street
com os The Dap Kings
Sharon Jones foi um show comprado sem titubear. Primeiro porque era no Bourbon Street, local sensacional de se ver show em São Paulo. Pequeno e confortável. Segundo, porque esta casa de show tem parceria com meu banco, então pago metade para qualquer show! :) E em terceiro lugar porque era a Sharon Jones. Talvez não exatamente nesta ordem...

A Sharon Jones é uma cantora fabulosa, com uma história incrível. Depois de tentar a carreira como cantora sem sucesso, ela foi guarda presidiária e segurança de carro forte. Em 1996, ao gravar como backing vocal, acabou sendo descoberta e começou a gravar singles. Até que a gravadora Daptone Records (criada por Gabriel Roth depois do fim da Desco Label) lançou seu primeiro disco (primeiro também da Daptone).

A Daptone Records é uma gravadora que tenta reproduzir o clima família da Motown, trazendo de volta sons, arranjos e o clima da música negra americana dos anos 60 e 70.

Sharon Jones e os The Dap Kings
Sharon Jones passou a ser acompanhada pelos The Dap Kings, banda da Daptone Records, formada por membros da antiga Soul Providers (banda da Desco Label), Mighty Imperials e Sugarman 3. Gabriel Roth, também baixista da banda, é também o maestro da banda e TOCA MUITO! Vale aqui dizer que durante o show uma corda sua arrebentou e ele fez tudo com três cordas, só mudando a afinação das cordas a cada música e digo: não são linhas de baixo simples não. Bastante complexas na verdade...

Em 2006, Mark Ronson, produtor que não é bobo, nem nada e que estava trabalhando com Amy Winehouse teve a brilhante ideia de convidar os The Dap Kings para gravar o disco Back to Black da cantora inglesa. A banda gravou e fez a tour do disco em 2007 com a cantora. Sem querer, a Amy Winehouse trouxe a atenção de volta a Sharon Jones, que era a verdadeira "dona" da banda.

Em 2013 a cantora foi diagnosticada com câncer no pâncreas e depois de cirurgia e quimioterapia, ela está de volta (desde 2014) quebrando tudo como nunca!

Saun & Starr acompanhadas pelos The Dap Kings no
início do show
O show começa só com os The Dap Kings. Na sequência, as backing vocals da banda se apresentam cantando, pois estão também sendo lançadas em carreira solo pela Daptone Records como Saun & Starr. Foram três músicas onde elas mostram o quanto cantam e arrebentam na simpatia. Tudo apenas um esquenta para a Sharon Jones começar. Isto é, são três shows em um.

Depois Sharon Jones começa a soltar a voz e toda a sua energia. Para alguém com 59 anos e que teve câncer recentemente, a energia é surpreendente. Não sei se conheço a alguém que quebre tudo desta forma. São duas horas de funk e soul, deixando a plateia toda animada e gritando sem parar.

Você dança o show quase todo, mas também tem o momento da balada romântica que traz toda aquela atmosfera da música negra dos anos 60 ao recinto. E principalmente em 'Get Up and Get Out', quando ela fala do seu câncer, o show também emociona.

De verdade, não tenho palavras para descrever o que acontece em um ambiente em que a Sharon Jones está. É uma igreja norteamericana, um show de funk e soul, um show de uma cantora foda e de uma puuuuuta banda e uma troca de energia entre todos que é bem difícil de experimentar e de detalhar.

Fato é, para saber, você precisa ir a um show dela. Se jogue! Não pense. Dance! E agradeça! Pois com uma história de início de carreira tão difícil e com a superação de um câncer, ela poderia não estar nos palcos para nos contagiar como tem feito. Obrigado Sharon Jones. O prazer é todo nosso!

Nos vídeos para mostrar o que acontece quando esta mulher canta, segue o vídeo de 'Get Up and Get Out', onde todo mundo dança e se emociona quando ela fala da doença. Desculpas pelo finalzinho cortado do vídeo.


Fica também o vídeo da balada 'Every Beat of My Heart' de Johnny Otis, trazendo o clima da música negra dos anos 60, que no meu caso, só vi em filmes.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Madeleine Peyroux - 20/05/2015

O bom de ter uma mulher com um gosto diferente do seu musicalmente (apesar das várias coisas em comum que gostamos), é que ela te apresenta oportunidades para se ver um show que você não considerava. Aí você vai, gosta e baba. Assim foi o show do Madeleine Peyroux na Sala São Paulo.

Série Música para Cura da TUCCA (informações
no link no texto ao lado)
Em primeiro lugar, vale citar que o show foi realizado dentro do projeto "Música pela Cura" da Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes do Câncer), que há mais de 10 anos produz este projeto como forma de sustentar a associação. A série de shows, financiadas através de patrocinadores pela Lei Rouanet, reverte toda a renda obtida em cada apresentação para o tratamento das crianças e adolescente com câncer.

Centro Cultural Júlio Prestes

Todas as apresentações desta série são feitas na Sala São Paulo, que fica no Centro Cultural Julio Prestes, no centro de São Paulo.

Antiga estação de trens da Estrada de Ferro Sorocabana, hoje aloja aquilo que dizem ser uma das salas com melhor acústica do mundo para concertos.

Pessoalmente, foi a primeira vez que fui ver uma apresentação nesta sala e além da beleza estética do local (para quem gosta de edifícios antigos e aprecia a beleza de um em bom estado de conservação, é simplesmente demais), a beleza acústica de uma apresentação ouvida neste espaço é especial, com uma claridade de sons muito definida.

Para mim, a acústica de salas assim sempre foi apreciada ouvindo sinfonias. Não que eu goste, mas meu pai me levou em algumas e passei a admirar a qualidade dos músicos e do som em locais assim. Ouvir essa mesma qualidade impressionante e uma apresentação de um estilo musical do qual gosto mais, foi de fato uma experiência única.

A estrela da noite, Madeleine Peyroux também foi uma novidade para mim. Confesso que não sabia o que escutar até ver o setlist do programa, quando fiquei realmente animado.


Blues, jazz, muitas boas músicas, diversos compositores sensacionais, incluindo Robert Johnson que gosto muito. Somando-se a isso as músicas próprias da cantora e algumas performances extras em francês, durante a parte solo do show e no bis, o que se pôde ouvir foi um trio (no contrabaixo Barak Mori e na guitarra Joe Herington) que sabe o que faz.

Madeleine Peyroux e sua banda acompanhante na
Sala São Paulo
A acústica, o silêncio do público e a concentração dos músicos criaram uma atmosfera de quase hipnose durante o show. O talento do trio era de cair o queixo. Madeleine encantava com a sua voz e sua mão leve nas cordas. Barak Mori faz uma base sólida no contrabaixo. Agora Joe Herington tocou um dos sons mais limpos e lindos que já ouvi, elevando a guitarra a um patamar clássico que eu nunca havia considerado. Cada nota podia ser ouvida claramente e a impressão é de que ele não errava nada (nenhuma nota, nenhuma corda sem querer)... Coisa linda de se ouvir.

Madeleine tem uma leveza na sua voz, na sua arte. Ao mesmo tempo, enquanto fala com o público em português, fala das suas composições de amor, sobre a tristeza e sobre o álcool e ri de alguma forma como a Ângela Rô Rô. Uma figura que mostra leveza e um certo peso na forma de levar a vida ao mesmo tempo. Figura curiosa! E lendo sobre sua história, o nome francês, a criação nos EUA, seu início de carreira, sua genialidade e medos, muita coisa fica mais clara.

Independente desta dualidade, seja ela uma coisa ou outra ou ainda este mix que eu vi, pôde presentear a todos que compraram ingressos para ajudar os jovens da TUCCA com sons lindos, leves, claros e até, porque não, emocionantes. Que delícia de música!

Abaixo um vídeo com uma das versões tocadas por ela mais conhecidas do grande público: 'Dance Me to the End of Love', de Leonard Cohen.


PS: não deixem de conferir as apresentações que ainda ocorrerão na série "Cura pela Música" da TUCCA, que ainda terão performances bem interessantes.