terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sobre Covers&Originais: Helpless: Diamond Head (1979) e Metallica (1987)

Dando continuidade, estávamos falando do Garage Days, álbum de versões gravado pelo Metallica em 1987. Nesta semana, falaremos de outra faixa daquele disco. Esta, por sinal, abre a coletânea, mandando ripa – 'Helpless', orginalmente gravada pelo grupo britânico Diamond Head em 1979.


Acredito ter falado no Thesaurus da semana passada sobre a New Wave Of British Heavy Metal - NWOBHM; mas talvez eu não tenha destacado adequadamente a importância daquela tendência para as variações de sons pesados que viriam nos anos 80 e 90, e especial para grupos que revolucionariam o estilo entre 80 e 85.


A NWOBHM é para os adolescentes de hoje, tida como o Heavy Metal clássico: temas épicos e machões, calças apertadas, couro, guitarras pesadas e solos melódicos. Entretanto o som inglês tem sua importância atestada por manter o metal nas paradas de sucesso na época do aparecimento de seu maior ‘rival’ até então, em matéria de agressividade e barulho. Sim, estou me referindo ao Punk Rock.


Não cabe aqui neste artigo defender onde o movimento Punk se apresenta pela primeira vez; no caso é interessante ver o impacto deste movimento na Inglaterra na música pop e mesmo no Heavy Metal norte americano.

O Metal inglês (British Steel como diria o Judas Priest) vai ser ouvido bastante nos Estados Unidos e vai influenciar muitas bandas! Mas em alguns casos, esta audição incluía também as novidades trazidas pelo Punk britânico. Então, as bandas americanas desenvolvem algumas variações interessantes de metal: vão adicionar a velocidade do Motörhead, as temáticas satânicas do Black Sabbath, a sujeira do Punk Rock e as melodias de guitarras do Iron Maiden e do Judas Priest. No que deu?

Tipo: Exodus - banda que lança o guitarrista Kirk Hammet do Metallica:


- e Slayer em sua primeira fase, altamente satanista e rápida, conhecida por alguns como Black Metal:


- Anthrax com seus riffs pesadíssimos e andamento acelerado:


Ou o Metallica que iria trazer à voga um dos grupos menos conhecidos da NWOBHM, o Diamond Head em 'Helpless'!


O Metallica nunca escondeu suas preferências. Sabemos por esta mesma coluna que eles ouviram, MUITO, Motörhead. E eles gostavam de DH a tal ponto que, já haviam gravado outra daquela mesma banda, muito conhecida pelos fãs de primeira hora da banda do Lars Ülrich: 'Am I Evil'.


Ainda esta semana volto com mais uma matéria galera!

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Caetano e Gil - 22/08/2015

Caetano Veloso e Gilberto Gil nunca foram dos meus artistas prediletos. Pela educação musical familiar que eu tive, este nunca foi um tipo de som que era tocado em casa. Com o tempo, Gilberto Gil, com sua aproximação maior do pop, passou a chamar minha atenção em determinados momentos da vida, mas nada que fizesse ele tocar no meu rádio. Até tenho o disco acústico dele no meu computador, mas a verdade é que ele nunca esteve entre os mais tocados por aqui.

Mas a vida passa. Alguns preconceitos vão caindo. Suas prioridades vão mudando. Você se casa e fica sabendo de um show deles e imagina que sua mulher gostaria ir, pois ela sim gosta muito de ambos os artistas. Tentei comprar ingresso sem sucesso para vários dias deste show, mas por sorte, uma amiga com ingressos a mais nos vendeu um par que nos permitiu ver a apresentação no Citibank Hall, em São Paulo.

Eu, sentado, vendo um show de Caetano e Gil. E enquanto via prestava atenção e tudo e me via ali, pensei sobre uma vida toda onde diversos preconceitos musicais meus foram caindo e descobertas foram acontecendo.

Minha formação musical é toda baseada no rock and roll ouvido pelos meus irmãos mais velhos e consequentemente trasladado a mim. Por conta disso era o cara estranho no colégio e na faculdade, apesar de que quanto mais velho eu ia ficando, mais o rock and roll ia ficando mais próximo dos meus amigos também. Na pré-escola fui levado para a diretoria, pois pedi para tocar uma música no pátio da escola que 'Sexo' do Ultraje a Rigor. Tomei um baita esporro e nem sabia o porquê. Mas adorava aquela música... Fui cabeludo, andei só de preto por pouco tempo, andei só de calça outro tempo (rs), usei anéis de caveira pegos "emprestados" da minha irmã, pintei o cabelo. Enfim, toda aquela cena do jovem que quer aparecer.

O tempo foi passando e veio o primeiro ponto fora da curva. Meu pai me levou ao Teatro Nacional de Brasília para ver a Orquestra Filarmônica de Brasília tocar. O primeiro impacto foi forte, mas meus pré-conceitos fincaram pé e eu disse que odiei. No dia seguinte, tendo absorvido aquilo, falei para minha mãe que "pensando melhor", eu tinha gostado do concerto sim.

Anos depois, já na faculdade, amigos me convenceram a ir ao carnaval de Salvador. Depois de muito bater o pé e ser o único que não queria ir, cheguei com uma cara de ** na Bahia, mas saí entendendo que aquela música tinha um propósito (tanto que voltei uma segunda vez). Já morando em São Paulo e a trabalho, vi dois dias seguidos de shows do Chitãozinho e Xororó. Fui trabalhar de cara amarrada, porque sertanejo é algo que até hoje não ouço, mas pude ver no backstage a dedicação e o profissionalismo de um pessoal que está ali fazendo música e passei a ter respeito por qualquer gênero, por mais que eu não aprecie.

Com os anos passei a gostar de música eletrônica, indie rock, a ouvir jazz, blues e assim a vida foi indo... O tempo foi passando, a intolerância foi dando lugar a curiosidade e ao respeito e fui começando a gostar de outras coisas e a respeitar e tolerar e até mesmo, porque não, me divertir com outras. Graças a Deus!

Não posso dizer que saí do show do Caetano e do Gil amando ambos, mas seguramente saí com um respeito muito maior pelos artistas. Ambos são lendas vivas da música e poder estar ali e vê-los apenas na voz e no violão foi de fato um privilégio. O setlist foi:

1. Back in Bahia 
2. Coração vagabundo 
3. Tropicália 
4. Marginália II 
5. É luxo só (música de João Gilberto)
6. É de manha 
7. As camélias do quilombo do Leblon 
8. Sampa 
9. Terra 
10. Nine Out of Ten 
11. Odeio Você 
12. Tonada de Luna Llena (música de Simón Díaz)
13. Eu vim da Bahia 
14. Super Homem (A Canção) 
15. Come prima (música de Tony Dallara)
16. Esotérico - tem vídeo
17. Tres Palavras 
18. Drão 
19. Não Tenho Medo da Morte 
20. Expresso 2222 
21. Toda menina baiana 
22. São João xangô menino 
23. Nossa gente 
24. Andar com fé 
25. Filhos de Gandhi 
26. Desde que o samba é samba 
27. Domingo no parque 
28. A luz de Tieta - tem vídeo
29 .Leãozinho 
30. Three Little Birds (música de Bob Marley)

O show conta com ambos cantando suas músicas e juntos, cantando músicas de um e de outro e claro, composições em que criaram juntos. Confesso que curti mais a parte em que o Gilberto Gil comanda, pois acho suas composições, seu clima, mais pra cima, animado. Mas o Caetano Veloso tem uma profundidade muito forte em suas composições. E como violonistas, ambos dispensam comentários, pois são ótimos.

A platéia formada quase que 100% com fãs da dupla, deu o clima da noite cantando tudo e mais um pouco, batendo palma e gritando em alguns momentos (o que é totalmente desnecessário e deselegante, por mais que a intenção seja fazer um elogio). De qualquer maneira achei uma baita experiência participar deste show. Me abriu mais a cabeça, me fez pensar sobre como a gente evolui nos nossos gostos e claro, curti um belo espetáculo de música. E seguramente ainda tenho um bom caminho pela frente...

Longa vida à MPB brasileira. E parabéns aqueles todos que suportaram e suportam este gênero musical, para que ainda hoje estas duas lendas vivas sigam fazendo um show desta qualidade. Eu só não gostaria de estar na pele deles na hora de escolher o repertório, pois deve ser muito complicado...

Deixo um gostinho do que foi esta noite nos vídeos (já tradicionais!).

- Esotérico


- A Luz de Tieta


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Incognito - 20/08/2015

Incognito no Bourbon Street
Segundo show do Incognito, apresentação número 321 no total. Sem receio de ser repetitivo, mas show bom, som gostoso de ouvir e em um lugar que nunca pouparei elogios, que é o Bourbon Street. Ontem, infelizmente, o esquema de disposição de mesas deixou o público um pouco amontoado e algumas pequenas "confusões" aconteceram, mas nada que atrapalhasse a alegria da noite.

Show com amigos e a mulher é sempre divertido. Mas para ouvir uma boa música e ver uma ótima banda, é ainda melhor. Não vou e nem posso ficar aqui escrevendo muito sobre a banda, o setlist, etc., pois apesar de gostar do trabalho deles, não sou um dos maiores conhecedores como os amigos que me acompanhavam. Mas posso falar de alguns detalhes...

O Bluey (dono da banda!) é a única peça da banda que não muda. Desta vez, em comparação a primeira vez que vi a banda, a formação não mudou muito (teclado, metais e parte dos vocais eram os mesmos), mas a qualidade musical não cai nunca. Impressionante a qualidade dos músicos. Atenção especial para o baixista, Francis Hylton que toca muito, fez um solo maneiríssimo e tira um som rasgado do baixo. Além desse, menção honrosa para o João Caetano, um chinês de Macau, com pais portugueses, que toca como se tivesse crescido na Bahia ou no Caribe. Impressionante!

Junta essa galera toda, como se estivesse fazendo uma jam, com três vocalistas (2 femininos e 1 masculino), é sucesso. A toda a apresentação soma-se o Bluey contando suas histórias de tantos anos dedicados à música, fazendo sempre a plateia rir.

Não só música. Entretenimento. Diversão. Uma ótima noite regada a um som maravilhoso, executada com perfeição por músicos sensacionais. E a conclusão eu deixo para quem lê no vídeo abaixo da música 'I See the Sun', do último disco da banda de 2014, Amplified Soul. Enjoy!

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sobre Covers&Originais: Crash Course in Brain Surgery: Budgie (1974) e Metallica (1987) por Zeca Dom



Eeeee!

Hoje vamos fazer um pequeno especial sobre um álbum de covers do Metallica, lançado em 1987, o Garage Days Re-revisted – não confundir com o Garage INC. de lançado anos depois...

O álbum chegou no Brasil ainda na ressaca do falecimento do grande baixista Cliff Burton, e tinha um playlist meio estranho. Explico: algumas bandas não eram tão conhecidas do público brasileiro – no caso de Diamond Head ('Helpless') e Budgie ('Crash Course in Brain Surgery'); outras não eram exatamente bandas de metal como a 'GreenHell' do Mistfits ou 'The Wait' do post punk inglês do Killing Joke.

Para mim, a grande colaboração deste álbum foi abrir a cabeça de alguns headbangers que insistiam em um tipo ‘puro’ de heavy metal, sem misturas ou referências antigas. Basta você observar que esta mistureba (Crossover para alguns críticos: vide thesaurus no fim do post) já estava acontecendo no punk rock e suas variações mais rápidas e agressivas. Vide, por exemplo, English Dogs, que em 1982 lança um compacto que eu juro, mas juro mesmo, ter lido que o Metallica ouviu: 'To the Ends of the Earth', que é bem parecido – respeitada as óbvias limitações técnicas dos ingleses – com o andamento de 'Kill’em All' do grupo californiano.


Como se vê, só falar deste álbum de 87 daria seguramente o espaço de um mês. Eu decidi me concentrar em dois momentos: 'Crash...' e 'The Wait' (esta última na semana que vem!).

O som do Budgie, possivelmente nem seria conhecido do grande público: foi uma boa banda Galesa da década de 70 que sobreviveu a NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal: Thesaurus!!!!) e veio a ser conhecida por seu riff matador de 'Crash Course Brain in Brain Surgery', que abre esta matéria.

É possível perceber como a música é setentista: observe os agudos (‘gritinhos’, para leigos) do vocalista; os timbres, em especial do baixo.

O Metallica é uma banda dos anos 80 e por consequência, seus integrantes foram influenciados pela década anterior. O blend de influencias deste grupo não se restringiu aos grupos de metal, mas também no punk rock europeu e no hardcore californiano. Isto explica, em parte, como aquela música de anos 70 tornou-se muito mais pesada, mas com acentos mais ‘sujos’ de hardcore na linha do English Dogs:


Semana que vem tem mais, como já prometido!

Thesaurus:

Crossover: cruzamento de estilos: um grande exemplo, pode ser observado na composição 'Walk This Way', originalmente do grupo de Hard Rock setentista Aerosmith. A música fez um enorme sucesso em uma versão crossover de hard rock & rap, com o grupo RUN-DMC (Friedlander de 2002), na metade da década de 80. Considero esta composição um marco para o advento de novas tendências do rock, em especial nas variantes mais pesadas, na retomada das influências negras, que possibilitou a renovação de vários estilos na música pop nos últimos quinze anos. Para os adeptos do Heavy Metal, crossover correspondia na década de oitenta, especialmente o cruzamento de sons do heavy rock com o punk rock ou hardcore. Um bom exemplo seria o grupo californiano DRI que cruza elementos do Heavy Metal e do Hardcore


NWOBHM - New Wave of British Heavy Metal: termo da imprensa inglesa que referia-se a leva de grupos de heavy metal inglês que iriam redimensionar o estilo nos fins dos anos 70 e início dos 80. Dentre as bandas conhecidas no Brasil, destacam-se Iron Maiden, Def Leppard, Saxon e Samson. Esta última foi a banda que revelou o vocalista Bruce Dickson que integraria posteriormente o Iron Maiden.

Vale a pena ouvir. Muito cabeludo que se diz fã do Iron Maiden NUNCA ouviu falar de Samson...

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A Minha Primeira Vez no Teatro Municipal de São Paulo

Porque nem só de rock e pop vive o homem! Porque eu nunca tinha ido ao Teatro Municipal de São Paulo! Porque eu tenho uma mulher que adora me proporcionar novas experiências! Por isso tudo, ganhei de presente de dia dos namorados (dia 12 de junho) um presente que só pude aproveitar no último dia 06 de agosto, quinta-feira: ver um concerto da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo no Teatro Municipal de São Paulo.

O programa do dia era:
Orquesta Sinfônica Municipal de São Paulo
Regente: Christian Arming, austríaco
Solista: Tatjana Vassiljeva, russa - Violoncelo
Obras:
- GUILLAUME LEKEU: Adágio para Orquestra de Cordas (11 minutos)
- EDWARD ELGAR: Concerto para Violoncelo e Orquestra, Op. 85 (30 minutos)
- CÉSAR FRANCK: Sinfonia em Ré Menor  (37 minutos)

A experiência toda começa por ir ao centro de São Paulo, no meio da semana, o que só é comum para quem trabalha por lá. Alguns dos prédios, bem conservados, ficam ainda mais lindos com sua iluminação. Outros, se destacam por estarem abandonados, sujos, pichados, o que é uma pena.

Teatro Municipal de São Paulo
O Teatro Municipal que é lindo por fora, é ainda mais memorável por dentro. Das janelas, portas, lustres, aos detalhes de cada canto do prédio, bem conservado e lindo. Ao entrar os olhos ficam meio chocados e não conseguem parar de olhar para tudo. Infelizmente não houve muito tempo para admiração, pois o concerto já ia começar.

Ao entrar na sala, confesso que esperava que fosse maior, mas é linda. Os balcões são impressionantes! Assentos na 3a fileira. Prontos para ver toda a ação bem de perto.

A primeira parte do concerto, só de cordas foi uma das coisas mais lindas de se ouvir (e ver). Eu costumo ver muito pouco orquestras de música clássica, mas confesso que toda vez que vejo acho lindo o som, pois sempre me parece o som mais límpido e puro que se pode fazer com instrumentos. Os seus ouvidos agradecem, diante da loucura de ruídos do dia a dia, poder ouvir aquilo. O violoncelo nesta obra tinha um tom sombrio, uma coisa linda de ouvir.

Na segunda obra, a solista russa Tatjana Vassiljeva, estava bem na nossa frente. E ver alguém, tocar naquela intensidade, uma peça de 30 minutos, sem partituras, é impressionante. E estar tão perto, poder ver cada movimento, a hora de atacar o instrumento, a hora de acariciá-lo. Ver tudo com tantos detalhes foi brilhante.

Depois do intervalo a terceira obra. 37 minutos. E a chance de ver o regente e reparar nos seus movimentos. Observar cada instrumento. Ver músicos mais novos tocando cada nota com o corpo. Ver músicos mais experientes que mal se movem e só olham a partitura de longe. Ver perfis de pessoas que no dia a dia, você jamais diria que são músicos clássicos, fazendo música.

Não foi apenas uma experiência musical. Foi uma experiência histórica. De sentidos: visão e audição. Mas mais que tudo, foi uma experiência emocional. A música clássica que tem tão pouca presença na minha vida me traz isso. E o Teatro Municipal de São Paulo foi um cenário e tanto para o momento. Para muitos que perguntaram: eu super recomendo! Obrigado pelo presente Marina! :)