segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Caetano e Gil - 22/08/2015

Caetano Veloso e Gilberto Gil nunca foram dos meus artistas prediletos. Pela educação musical familiar que eu tive, este nunca foi um tipo de som que era tocado em casa. Com o tempo, Gilberto Gil, com sua aproximação maior do pop, passou a chamar minha atenção em determinados momentos da vida, mas nada que fizesse ele tocar no meu rádio. Até tenho o disco acústico dele no meu computador, mas a verdade é que ele nunca esteve entre os mais tocados por aqui.

Mas a vida passa. Alguns preconceitos vão caindo. Suas prioridades vão mudando. Você se casa e fica sabendo de um show deles e imagina que sua mulher gostaria ir, pois ela sim gosta muito de ambos os artistas. Tentei comprar ingresso sem sucesso para vários dias deste show, mas por sorte, uma amiga com ingressos a mais nos vendeu um par que nos permitiu ver a apresentação no Citibank Hall, em São Paulo.

Eu, sentado, vendo um show de Caetano e Gil. E enquanto via prestava atenção e tudo e me via ali, pensei sobre uma vida toda onde diversos preconceitos musicais meus foram caindo e descobertas foram acontecendo.

Minha formação musical é toda baseada no rock and roll ouvido pelos meus irmãos mais velhos e consequentemente trasladado a mim. Por conta disso era o cara estranho no colégio e na faculdade, apesar de que quanto mais velho eu ia ficando, mais o rock and roll ia ficando mais próximo dos meus amigos também. Na pré-escola fui levado para a diretoria, pois pedi para tocar uma música no pátio da escola que 'Sexo' do Ultraje a Rigor. Tomei um baita esporro e nem sabia o porquê. Mas adorava aquela música... Fui cabeludo, andei só de preto por pouco tempo, andei só de calça outro tempo (rs), usei anéis de caveira pegos "emprestados" da minha irmã, pintei o cabelo. Enfim, toda aquela cena do jovem que quer aparecer.

O tempo foi passando e veio o primeiro ponto fora da curva. Meu pai me levou ao Teatro Nacional de Brasília para ver a Orquestra Filarmônica de Brasília tocar. O primeiro impacto foi forte, mas meus pré-conceitos fincaram pé e eu disse que odiei. No dia seguinte, tendo absorvido aquilo, falei para minha mãe que "pensando melhor", eu tinha gostado do concerto sim.

Anos depois, já na faculdade, amigos me convenceram a ir ao carnaval de Salvador. Depois de muito bater o pé e ser o único que não queria ir, cheguei com uma cara de ** na Bahia, mas saí entendendo que aquela música tinha um propósito (tanto que voltei uma segunda vez). Já morando em São Paulo e a trabalho, vi dois dias seguidos de shows do Chitãozinho e Xororó. Fui trabalhar de cara amarrada, porque sertanejo é algo que até hoje não ouço, mas pude ver no backstage a dedicação e o profissionalismo de um pessoal que está ali fazendo música e passei a ter respeito por qualquer gênero, por mais que eu não aprecie.

Com os anos passei a gostar de música eletrônica, indie rock, a ouvir jazz, blues e assim a vida foi indo... O tempo foi passando, a intolerância foi dando lugar a curiosidade e ao respeito e fui começando a gostar de outras coisas e a respeitar e tolerar e até mesmo, porque não, me divertir com outras. Graças a Deus!

Não posso dizer que saí do show do Caetano e do Gil amando ambos, mas seguramente saí com um respeito muito maior pelos artistas. Ambos são lendas vivas da música e poder estar ali e vê-los apenas na voz e no violão foi de fato um privilégio. O setlist foi:

1. Back in Bahia 
2. Coração vagabundo 
3. Tropicália 
4. Marginália II 
5. É luxo só (música de João Gilberto)
6. É de manha 
7. As camélias do quilombo do Leblon 
8. Sampa 
9. Terra 
10. Nine Out of Ten 
11. Odeio Você 
12. Tonada de Luna Llena (música de Simón Díaz)
13. Eu vim da Bahia 
14. Super Homem (A Canção) 
15. Come prima (música de Tony Dallara)
16. Esotérico - tem vídeo
17. Tres Palavras 
18. Drão 
19. Não Tenho Medo da Morte 
20. Expresso 2222 
21. Toda menina baiana 
22. São João xangô menino 
23. Nossa gente 
24. Andar com fé 
25. Filhos de Gandhi 
26. Desde que o samba é samba 
27. Domingo no parque 
28. A luz de Tieta - tem vídeo
29 .Leãozinho 
30. Three Little Birds (música de Bob Marley)

O show conta com ambos cantando suas músicas e juntos, cantando músicas de um e de outro e claro, composições em que criaram juntos. Confesso que curti mais a parte em que o Gilberto Gil comanda, pois acho suas composições, seu clima, mais pra cima, animado. Mas o Caetano Veloso tem uma profundidade muito forte em suas composições. E como violonistas, ambos dispensam comentários, pois são ótimos.

A platéia formada quase que 100% com fãs da dupla, deu o clima da noite cantando tudo e mais um pouco, batendo palma e gritando em alguns momentos (o que é totalmente desnecessário e deselegante, por mais que a intenção seja fazer um elogio). De qualquer maneira achei uma baita experiência participar deste show. Me abriu mais a cabeça, me fez pensar sobre como a gente evolui nos nossos gostos e claro, curti um belo espetáculo de música. E seguramente ainda tenho um bom caminho pela frente...

Longa vida à MPB brasileira. E parabéns aqueles todos que suportaram e suportam este gênero musical, para que ainda hoje estas duas lendas vivas sigam fazendo um show desta qualidade. Eu só não gostaria de estar na pele deles na hora de escolher o repertório, pois deve ser muito complicado...

Deixo um gostinho do que foi esta noite nos vídeos (já tradicionais!).

- Esotérico


- A Luz de Tieta


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