sexta-feira, 9 de setembro de 2011

2005 - Capítulo IV: Meu Primeiro Festival na Europa

Demorei, escrevi sobre "afins", mas estou de volta com os shows de 2005 e muito empolgado depois de ter ganho o ingresso para o show do 'Gotan Project' e ter comprado o do 'Tears for Fears'. Hoje, conto a saga do primeiro festival na Europa e deixarei para um capítulo 5 todos os shows avulsos de 2005 (que foram alguns...).

(Já peço desculpas pelo tamanho do post, mas é tudo uma coisa só! Não dá para dividir este post...)

- Capítulo IV: Meu Primeiro Festival na Europa
Já fazia pelo menos 1 ano e meio que meu sobrenome em São Paulo era trabalho! Fiquei 7 meses trabalhando de casa, onde não havia hora para começar e nem para terminar. Depois começamos no escritório, mas com uma equipe ainda reduzida. Meu primo, amigo, irmão, Marcelo chegou no início de 2005 para dar uma mão e recebi a notícia que era chegada a hora de ir para Portugal conhecer os chefes todos! E olha que convite simpático: vem uma semana antes, tira uma semana de férias, a gente paga o hotel e banca as despesas como se você estivesse aqui a trabalho como recompensa pelo seu esforço no último ano!

PQP, primeira viagem para a Europa, bancada? Partiu Lisboa! Menino deslumbrado com a vida de empresa multinacional tava engraçado! Mas empacotei minhas coisas e parti de VARIG para o velho continente.

Cheguei lá no sábado cedo e parti com todo o guia da cidade de Lisboa preparado para mim pelo ex-morador temporário da cidade, Rafael Ramos. No mesmo sábado de noite saí para jantar com o primeiro chefe que conheci: Ivo Conde (excelente gosto musical e também viciado por shows). Saímos, jantamos, tomamos uma, vimos um jogo de futebol e tudo certo! Deixamos já marcado um almoço na segunda com todos os chefes juntos.

Passei meu domingo passeando também e segunda lá fui eu almoçar com os chefes na Expo (bairro com arquitetura moderna de Lisboa). Estavam lá Ricardo Carvalho, Antonio Santos Silva, Paulo Salgado e novamente Ivo Conde. (Soube semana passada que o que veio a seguir foi planejado por eles pela falta de tempo para me dedicar alguma atenção).

Durante o almoço surge uma conversa sobre o meu gosto por concertos (ou shows no português brasileiro). Comentei sobre um festival que aconteceria enquanto estivesse por lá e que o Jamiroquai tocaria, mas que cairia nos dias em que deveria estar trabalhando. Alguém solta na mesa: e o festival de Paredes de Coura, conheces? Respondi que não e decidimos ver o line up do negócio. Então começam a brotar os nomes: Foo Fighters, Bravery, Kaiser Chiefs, Pixies, Queens of the Stone Age, The Roots, Arcade Fire, Hot Hot Heat, Futurehead, Nick Cave, Juliette Lewis, The National e mais alguns outros... PIREI!!! E olha que maravilha: o festival rolava de 3a a 5a da semana que eu estava de folga! Ok, PARTIU PAREDES DE COURA! Mas, como se chega lá mesmo?

Meus chefes, na adrenalina de se livrar do brasileiro para o qual não tinham tempo resolvem o seguinte: almoço no dia seguinte, Paulo Salgado te empresta uma tenda (ou barraca no português brasileiro) e um saco de dormir (esqueci como eles chamam isso, mas acho que usam outra expressão) e (atenção a este E) vamos alugar um carro para você ir dirigindo e mais confortável até lá. PAUSA: menino deslumbrado com a vida trabalhando numa multinacional, primeira viagem para a Europa, festival cheio de nomes internacionais e mais uma vez vou pagando de gatinho com carro alugado! BRING IT ON!

E na terça-feira, depois do almoço, 16 de agosto de 2005, verão português, saí eu dirigindo pelas estradas muito bem pavimentadas em direção norte para Paredes de Coura! Comecei tranquilo, pois tinha uma tarde toda e estava aproveitando para observar tudo, mas de repente me lembrei que os shows começavam cedo e eu tinha um objetivo! Comecei a acelerar mais e no final da tarde, depois de alguns vacilos ao sair da estrada principal, estava em Paredes de Coura. O lugar é uma vila (será que tudo isso?) no meio do nada e a sensação é que sempre estava na estrada errada, pois não parecia estar indo a um local onde aconteceria um festival daquele porte.

Bom, ali estava eu e a Espanha a menos de 50km de mim! UAU! E aqui começamos uma série de coisas no mínimo engraçadas!

1) Buscar estacionamento para o carro: fiquei passeando e achando que as coisas tinham negociação! Negão, paga, larga o carro e fica feliz! Então achei um que fui com a cara mais ou menos e o Peugeot 206 estava seguro.

2) Comprar ingresso: cheguei na hora e comprei logo um passaporte para os 3 dias por 80 euros! DE GRAÇA se comparado aos preços de shows no Brasil. Fiquei todo feliz e coloquei minha pulseirinha (que tirei somente semanas depois que voltei de viagem achando mesmo que tava abafando com aquilo) que garantia meu livre acesso aos shows e ao camping.

3) Montar a barraca: então é isso, eu nunca tinha acampado na vida! Cheguei tarde e já quase não havia espaço. Um português que chegou sozinho junto comigo achou um espaço para a sua barraca gigante e eu descolei um espaço ali perto também e comecei os trabalhos. Mas tipo, como monta esta merda? Pagando de quem manjava muito, comecei a observar o português ao meu lado e a medida que ele ia montando seu castelo em forma de tenda, eu ia copiando e entendendo como cada peça daquela se encaixava. Depois de alguns minutos, meu quarto estava pronto! Tudo bem que algumas peças da montagem sobraram, mas o importante foi que a barraca ficou em pé e funcionando perfeitamente dali em diante.

4) Cerveja e show: fui ao espaço reservado aos shows e era um anfiteatro natural com o palco lá embaixo. SENSACIONAL! Os baixinhos como eu agradecem!

Para mim o festival começou com Kaiser Chiefs! No primeiro pulo o vocalista torce o pé! Passa o resto do show mancando e eu só conhecia uma música. Saí dali conhecendo várias que baixei depois. Bom show! Era só o começo! (só escrevendo me toco de como uso tão repetidamente o ponto de exclamação e as reticências)

Segundo show da noite: The Bravery. The Strokes "wanna be"! Tem um meio brasileiro na banda e uma música meio conhecida. Show ok, mas mais pra chato! Vamos ao que interessa: Foo Fighters! Já tinha visto eles no Rock in Rio e mais uma apresentação de gala! Coisa boa que é ver o show deles!

Ao final da noite uma surpresa: o MxPx que não conseguiu tocar por problemas no equipamento de som, fez um show num palco menor já de madrugada! A galera gastou as últimas energias e depois bora botar caldo verde pra dentro porque tá frio! (você em Lisboa, 40 graus, passando mal de calor e chega em Paredes de Coura e tá frio...minha sorte é que tinha levado um casaco) Fui pra minha barraca e tudo estava lá (calma lá, nego aqui não sai roubando tudo, é Europa! To nem aí, sou brasileiro, e o que é meu ninguém toca). Deitei e chapei!

Dia seguinte acordei com o tradicional forno dentro da barraca! Esse dia vai ser incrível! Ah se eu soubesse... Acordei, peguei minhas coisas e fui tomar banho GELAAAAAAAAAAAAAADO! Então bora se arrumar e dar um rolé! Aí você volta de banho tomado no meio do mato e chega na barraca todo cagado de novo! Muito mirim...

Saí para comer algo e mandei um pão qualquer lá e pedi um suco (na verdade um sumo) de laranja e ganhei algo que tava mais pra Fanta! Fui dar um rolé pela cidade e em 15 minutos já conhecia tudo! E agora, o que eu vou fazer no resto do dia? Deitei na praça e lá fiquei uns minutos! Uma caminhada até o carro pra ver se está tudo bem e volto para a praça! Um hamburguer pra almoçar... Opa, a programação diz que tem jazz na relva (ou na grama, para os brasileiros). Voltei pro camping, comprei uma garrafa de água, deitei na beira do rio e fiquei ouvindo o jazz. Depois de duas horas estava com vontade de dar um tiro na minha cabeça! Eu não aguentava mais estar comigo mesmo! Volta pra barraca, dorme um pouco! Ouço o primeiro barulho de bumbo no palco e saio correndo! Chega de tédio!!!!

Futurehead abre. Hot Hot Heat vem na sequência! To animado! Depois Arcade Fire (já falei no blog sobre o show deles que vi no TIM Festival, mas o primeiro foi aqui e achei MUITO BOM mesmo sem conhecer muita coisa). Entra The Roots e aí o bicho pega! SOM DE NEGÃO!!!! Aí tava na pilha, fazendo amigos portugueses e espanhóis!

Queens of the Stone Age entra e quebra tudo, mesmo com o vocalista sem praticamente poder mexer uma perna! Já tinha visto no Rock in Rio e valeu de novo! Aí entra Pixies, o show que me levou até aquele lugar! Algo clássico, parecendo meio jurássico, que não se tem a chance de ouvir todo dia! Todo mundo na banda bem tiozinho, mas o som bom demais e pesado! QUE SHOW! Sinto uma pena enorme por nunca ter tido a oportunidade de vê-los novamente em um ambiente em que eu estivesse um pouco mais tranquilo, num lugar não tão estranho pra mim.
Acabou, bora pra barraca de novo, pois amanhã tem mais e eu já pensando que diabos eu faria no dia seguinte! Aí vem o fato que tornou o FODA-SE português o palavrão mais divertido de todos os tempos pra mim! (Explicação rápida: a primeira vez que ouvi um português dizendo foda-se, fiquei meio sem graça, pois a impressão que tive é que tinham ensinado o cara a usar o palavrão de forma errada. Depois descobri que era daquela forma mesmo, mas neste festival ainda era tudo recente e eu achava graça de tudo. Exemplo de aplicação do foda-se português: Hoje tá muito quente! Foda-se! / Exemplo de aplicação do foda-se brasileiro: Ele não vem? Foda-se!) Estou deitado e ouço alguém gritar FODA-SE! E começo a ouvir repetições daquilo vindo de vários pontos do camping. Até que aquilo culima num FODA-SE coletivo com todos berrando ao mesmo tempo! Sim, eu ri muito antes de dormir (um dia peça para eu reproduzir isso ao vivo, pois lendo aqui de fato não parece ser tão engraçado).

No dia seguinte acordo, olho pra um lado, pro outro e penso: Nick Cave e Juliette Lewis que me perdoem, mas vou tocar o foda-se (brasileiro) e vou partir! To imundo, não vou tomar outro banho gelado e não tem nada para fazer aqui e não conheço ninguém! Decisão tomada, levantei barraca e mesmo sem comer nada, joguei tudo no carro e parti para o Porto.

(Me desculpem, mas preciso terminar a história toda, mesmo já não existindo shows) Já de volta para a estrada principal vejo placas indicando o Porto. Me meti numa delas, andei por algumas ruas, vi um estacionamento público e joguei o carro. Saí, comprei um mapa e surpresa: estava no centro da cidade! RÁ! Tinha idéia do que gostaria de fazer e então fui direto na catedral. Lindíssima, gostei de conhecer o local! Na saída vejo um trenzinho destes de turistas e quando fui ver o roteiro ia para exatamente todos os lugares que eu queria! RÁ! Comprei o ticket e fui!

A única parada relevante e viva na minha memória foi nas cavas de vinho do porto. Mandei uma degustação sem ter comido nada ainda e saí de lá trilili, depois de ter comprado algumas garrafas. Agarrei um McDonald's porque o homem não tinha comido e estava bêbado. Cidade conhecida mesmo que de maneira express, peguei o carro e parti para Lisboa.

Deixei o carro na locadora e apesar dele estar pago até o dia seguinte, quis logo deixá-lo de volta. Peguei o metrô de volta pro hotel com barraca, saco de dormir, mochila, sujo! Mendigo total! Olhares tortos vinham de todos os lados pra mim! Cheguei no hotel sonhando com um banho de banheira, mas ainda não. Eu larguei tudo no hotel e eles acharam que eu tinha abandonado o barco! Tive de resolver tudo, pegar as minhas coisas de volta e pagar todas as diárias até ali para evitar maiores suspeitas! Aí sim, subi pro quarto e tomei um baita banho.

Lições finais desta aventura:
- Eu não gosto de acampar;
- Eu não suporto ficar sozinho;
- Meus chefes são gente boa demais;
- Faria tudo de novo para ver shows que quero muito ver!

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