terça-feira, 28 de novembro de 2017

Jazz em New Orleans

PS inicial: antes de começar este post, aviso que como este é um relato de férias, colocarei todos os links disponíveis para quem quiser conhecer melhor os lugares e bandas.

Durante as férias um dos locais escolhidos para visitar foi a cidade de New Orleans, nos Estados Unidos. Depois de alguns dias em Nova Iorque, tendo visto o Global Citizen Festival, ainda tivemos a chance de ver um show de jazz em um speakeasy chamado Bathtub Gin (um café, que tem um bar escondido atrás, lembrando os tempos da lei seca, quando os bares eram escondidos e clandestinos) preparando o terreno para o que veríamos em New Orleans.


New Orleans é uma cidade diferente pelas influências francesa, espanhola, afro-americana e também norte-americana. Passamos, eu, Marina (a esposa), Camila (cunhada) e Mariana (cunhadinha), basicamente todo nosso tempo no French Quarter, onde está a parte mais cultural da cidade. Fomos lá para curtir a música e vou a partir daqui tentar descrever como foi isso com muitos vídeos, mesmo que curtos, pois eles foram feitos só para registrar parte das férias. A comida também é ótima! Foram tantas experiências, que eu precisava escrever.

Chegamos na cidade numa quinta-feira na parte da tarde e fomos dar uma volta naquele calor infernal. Depois de um almoço, um café e um beignet (tipo um bolinho de chuva delicioso e super tradicional da cidade, principalmente no Cafe Du Monde), demos de cara com a primeira surpresa musical na rua. Um cara tocando um instrumento que nunca vi na vida, mas que um amigo me disse se tratar de algo chamado Kora (instrumento com 21 cordas utilizado na África Ocidental).


Fiquei alguns bons minutos observando aquilo tentando entender o que era. Sabe quando você sente que está experimentando algo especial e quer guardar aquilo na memória para sempre? Foi o que eu senti vendo aquilo. Aquele momento aumentou minha expectativa para os próximos dias. Nesta noite só jantamos, comida local cajun, mas sem música alguma. No dia seguinte começamos cedo a caminhar pela cidade e trombamos com a primeira banda nas ruas da cidade.


Muito bacana e depois de algum tempinho vendo a banda tocar, me chamou muito a atenção a alegria da mulher que tocava o clarinete (ou seria outro tipo de sax? Especialistas?) Ela fazia aquilo com um sorriso, dançando e transmitindo uma vibe bacana e fiquei observando um pouco mais, até pegar com a câmera. Já deu uma mega energizada vê-la tocar.


Felizes seguimos nossas caminhada, explorando o French Market e chegamos ao museu da casa da moeda local, onde também há o Jazz Museum (pequeno, mas super legal. Principalmente a exposição sobre a história e participação da mulher no jazz). Quando chegamos estava rolando uma apresentação de um pianista sobre a influência e mistura da música de New Orleans e a música cubana. Vimos um pouco da apresentação e seguimos pela cidade.


Saímos de lá e fomos conhecer o Backstreet Cultural Museum que fala sobre o carnaval da cidade, o Mardi Gras. Lá conhecemos o dono do local, Sylvester, que além de nos apresentar a pequena exposição, nos convidou para um festival de música no dia seguinte.

Neste mesmo dia, já de noite, decidimos ir conhecer um dos lugares mais tradicionais da cidade, o Preservation Hall. Este lugar normalmente tem 4 shows por dia, de 40 minutos cada (mas pode variar). O local tem uma lotação super pequena, com entrada a 20 dólares por cabeça. Lá dentro não vende bebida (mas você pode entrar com a sua), não tem banheiro. Existem alguns bancos de madeira, mas nem todos conseguem sentar. É quente, não pode filmar ou tirar foto. O salão tem péssimo estado de conservação, um pouco por estilo, um pouco pelo projeto.

Tivemos a sorte de ver a banda residente da casa, a PresHall Brass, liderada pelo Daniel "Weenie" Farrow, por 40 fantásticos minutos. Uma placa mostrava: se quiser pedir uma música, pague 5 dólares; se quiser pedir um clássico, pague 10 dólares; se quiser pedir 'The Saints' (hino gospel com nome original 'When The Saints Go Marching In'), pague 20 dólares. Depois da primeira música, alguém na platéia já levantou com uma nota de 20 e perguntou quem mais quer ouvir 'The Saints'? Mais três pessoas pagaram e já na segunda música, estávamos ouvindo o maior hino da cidade.
Preservation Hall

Eu e Daniel 'Weenie' Farrow
O projeto do Preservation Hall tem como objetivo divulgar a cultura musical do jazz de New Orleans aos turistas. Mas principalmente através de todos os recursos arrecadados nos shows e vendas de souvenirs da casa, ajudar na preservação da cultura na cidade. Isto é feito com atuação direto junto aos professores da cidade e com ações com as crianças nas escolas. As crianças são o foco final, para que não deixem a cultura musical da cidade morrer. Fiquei feliz em ter contribuído vendo o show e comprando uma camiseta no local. Por mim teria voltado toda noite, mas não voltamos, pois tinha muita coisa para ver ainda.

No dia seguinte acordamos, comemos um tradicional brunch e fomos direto para o Tremé Fall Festival, que era o evento para o qual o Sylvester havia nos convidado. Chegamos lá e um som muito familiar estava rolando.


O grupo Casa (Cosmopolitan Amigo Samba Association) Samba estava tocando samba, acompanhado por um grupo que fazia uma performance com fantasias do Mardi Gras, nas cores do Brasil. Ficamos vendo aquilo e por alguns minutos sentimos uma conexão muito forte entre Brasil e New Orleans. Nosso carnaval afinal de contas, tem alguma conexão (apesar do Sylvester ter nos explicado que o Mardi Gras surgiu como uma forma dos negros agradecerem e homenagearem os índios que ajudavam os negros escravos a fugir).

Na sequência entrou no palco uma artista chamada Gina Brown. Cheia de clássicos e músicas próprias, botou quem não estava escondido do sol para dançar, pois estava um calor daqueles. Felicidade é ser permitido beber na rua em New Orleans. Cervejinha na mão, curtimos bastante a apresentação dela.



Mas o mais legal para mim de ver este show, foi ver o bairro todo presente, se divertindo e dançando. Um conceito de comunidade mesmo, curtindo um som, vendendo e comprando artesanato e comida na rua.

Em um momento as mulheres que estavam dançando, começaram a fazer passinhos curtindo o show. A Marina e a Camila não se aguentaram e foram dançar junto. Sério, achei este um dos momentos mais fantásticos da viagem. Não era apenas um show. Éramos nós, junto aos moradores da cidade, curtindo um festival local. Este não é o melhor tipo de turismo que se pode fazer?


Cansados do sol, voltamos caminhando pela cidade e cruzamos com mais uma banda tocando na rua.


Nessa noite decidimos ir a famosa Frenchmen Street, onde vários bares haviam sido indicados para vermos shows. Foi legal entender que cada bar tem o seu perfil, um tipo de música e um tipo de público. Tentamos aproveitar um pouco de cada um.

Nossa primeira parada foi no Maison. Lá vimos duas bandas, sendo a primeira a Royal Street Winding Boys.


A segunda banda da noite, dica da amiga Liana, foi a Smoking Time Jazz Club. O Maison é um bar legal, pois o palco é grande, o espaço do bar é enorme. Então você pode só pegar uma mesa, comer, beber e ver o show. Você pode dançar. Você pode só entrar, pegar uma cerveja e ficar no balcão um tempo e depois partir. É um bar maior e por isso mais versátil.


De lá partimos para outro bar tradicional, o Spotted Cat e vimos outro show, dessa vez da Panorama Jazz Band. Este bar já é menor e não tem mesa. O negócio é pegar sua bebida no bar e ficar em pé dançando e curtindo o show.


Saímos de lá, demos uma volta nas feirinhas de souvenirs da rua, cheias de coisas legais. Depois seguimos para o 3 Muses, onde vimos um show do Cristopher Johnson Jazz Trio. Este bar já é um lugar para sentar, tomar um drink e jantar. A música é bem mais tranquila, dando um clima mais sossegado ao local. E olha, a comida é muito boa!


A noite foi movimentada e muito interessante. Já começávamos a observar as variações de jazz que poderíamos ver na cidade: as brass bands, as bandas com foco nos metais, o jazz mais focado no vocal, etc. Enfim, em cada canto, uma coisa nova, um som diferente para ouvir e apreciar.

No dia seguinte acordamos para mais um brunch no Muriel's e além da comida ser maravilhosa, teve jazz ao vivo.


Neste dia demos uma volta fora do French Quarter para comer e visitar o WWI Museum, que para quem gosta de história é um belo passeio. Voltamos com uma caminhada ao lado do rio Mississipi e vimos um daqueles barcos a vapor sair do cais, com aquela chaminé tradicional. Quase tudo em New Orleans tem um apego ao passado, um link da importância histórica da cidade.

No nosso último dia fizemos um tour guiado a pé pela cidade, até cair um temporal e a cidade dar uma mini alagada. Nos retiramos ao hotel, mas chegamos a conclusão de que precisávamos ver um bom show para encerrar nossa temporada. E assim fomos ao The Jazz Playhouse, que fica no Hotel Sonesta, na Bourbon Street, rua mais tradicional da cidade.

O show da The Original Tuxedo Jazz Band foi fantástico. Música ótima e muito engraçada, o tempo todo fazendo piadas com a platéia e entre eles. Cantamos, dançamos e rimos esta noite. Uma despedida perfeita, acompanhada de alguns gin and tonic.



Ainda rolou um hambúrguer no Daisy Dukes na madrugada para terminar os dias na cidade com chave de ouro.

Assim terminou nossa passagem por New Orleans. Uma cidade que há tempos queria conhecer e amei. NOLA estará para sempre na memória e no coração. Tanta música, tanta energia, tanta felicidade sendo transmitida em cada canto na cidade me fazem querer indicar esta visita para todos. E claro, me deixaram com vontade de voltar. Obrigado pela companhia meninas. Sem a pesquisa, organização e energia de vocês, não teria tido metade da graça! :)

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