sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Chicago

Há cerca de mais ou menos duas semanas voltei das minhas últimas férias. Aproveitando um casamento que teria em Maryland, EUA, fui, acompanhado da minha namorada, para Chicago. Um pedido dela, para conhecer a cidade e toda sua arquitetura, mas prontamente topado por mim.

Estive em Chicago 11 anos antes e foi tipo paixão a primeira vista. Só não considero a cidade perfeita, pois é frio demais no inverno. Na minha primeira visita, passei por alguns pontos principais, comi algumas coisas típicas da cidade e em 2 dias, me apaixonei. Com a mala trancada no carro do amigo que me apresentou a cidade, voltei pra Maryland com apenas a roupa do corpo, um copo para a minha coleção e alguns pedaços de dip dish pizza que sobraram.
Foto tirada do topo da John Hancock Tower
no início da noite
Esta nova visita foi brilhante em todos os aspectos. Dias lindos, comida ótima, companhia espetacular, e atrações inacreditáveis (parques, museus, arte, arquitetura, mirantes, etc.). Mas como este blog fala de música, vou aproveitar para falar da questão musical da cidade. Chegamos numa 5a e fomos embora numa 4a. Foram 4 noites de atrações musicais, fora a quantidade de gente na rua tocando.

Foto tirada pela Marina durante o passeio de barco
do Instituto de Arquitetura de Chicago
Chicago recebeu uma grande quantidade da população negra que fugia do sul dos EUA na Guerra da Secessão. Isso não fez com que a população se tornasse predominantemente negra na cidade, mas a junção deste cenário com algumas das principais gravadoras do país estarem na cidade na cidade e com o fato de que na época da crise de 20 dos EUA, Chicago continuar "prosperando" devido a todo dinheiro que continuava fluindo através dos gângsters e mafiosos, que burlavam a lei seca da época, fez com que o blues prosperasse por lá.

Desde então, o blues se desenvolveu fortemente na cidade e atraiu nomes hoje considerados gigantes da música. Mesmo tendo passado os anos gloriosos do estilo, a cidade ainda respira e tem muito blues pra dar. São diversas casas, todas elas lotadas de locais e turistas.

Ao decidir o destino da viagem, recebemos várias dicas de locais para ir. Foi difícil decidir quais, mas eles foram se encaixando em nossa programação por fatores diversos e no meio disso, coube também uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Chicago. Seguem alguns comentários sobre estas noites naquela cidade, que pra mim, é a melhor dos EUA.

The Green Mill
Entrada do Green Mill Cocktail Lounge
Este local foi a nossa primeira parada numa 6a feira, após do jantar. O show começava as 21, mas por conta da programação anterior, acabamos chegando por volta das 22:30 no local. Fomos direto de metrô pela linha vermelha e confesso que ao chegar na estação destino, o ambiente não parecia dos mais favoráreis para descer e caminhar. Como desceu um outro grupo de pessoas, fomos seguindo eles até que em um quarteirão, atingimos nosso destino: The Green Mill.

12 dólares por cabeça em dinheiro e uma orientação para falar baixo. Escolhemos esta casa pelos seguintes motivos: nos foi indicada, tinha jazz (gostaríamos de ouvir jazz em vez de blues uma noite) e era o bar preferido do Al Capone. O local foi fundado em 1907 e Jack McGurn (matador do Al Capone) virou sócio da casa. Os gângsters gostavam do local, pois conseguiam fugir facilmente de lá em caso de confusão e dizem que ainda existe um sistema de túneis que era usado por eles, para que pudessem escapar.

Grupo de Gipsy Jazz
Na noite que fomos estava tocando um grupo de Gipsy Jazz. Musicalmente muito interessante. Infelizmente chegamos tarde demais e não conseguimos ficar perto do palco, pois estava lotado. Fomos convidados a dividir uma mesa, o que descobrimos ser bastante comum nas casas de Chicago. Bebemos um pouco e depois que algumas pessoas começaram a ir embora, conseguimos ver e ouvir o grupo de perto. Foi quando observamos também no bar, na parte mais perto do palco, uma mesa com fotos do Al Capone e Jack McGurn, como referência e "homenagem" as figuras mais ilustres da casa até hoje.

Fato curioso foi que fomos orientados a falar baixo. Durante a noite constantemente a voz do público subia de volume e o mesmo segurança, gigantesco, que nos recepcionava, gritava "sssshhhhhhhhhhhhhhh! QUIET!!!!" e quase que instantaneamente todos paravam de falar ou falavam muito baixo. O único bêbado que não levou a sério, foi expulso depois de tomar um esporro do barman.

A casa é pequena, charmosa e histórica. Vale muito a pena. Mas chegue cedo, pois se não conseguir uma mesa em frente ao palco, não verá nada.


Orquestra Filarmônica de Chicago
Eu, em frente ao Orchestra Hall
Sempre ouvi falar bem da Filarmônica de Chicago e aproveitando que haveria apresentação de Romeu e Julieta enquanto estivéssemos na cidade, compramos ingressos. Foram R$ 50 dólares por ingresso para o espetáculo que aconteceu no teatro da filarmônica, o Orchestra Hall, na Rua Michigan. Pequeno e bem charmoso.

Chegamos faltando 30 minutos para o início e decidimos tomar um vinho. Acabamos virando as taças, o que nos deu um sono! Mas valeu a pena, pois como um fã de música, mesmo não sendo um grande conhecedor ou apreciador da música clássica, acredito que uma orquestra é o que se pode chegar mais próximo de ouvir um som perfeito ao vivo. É como se fosse aquele som digital, com todos os canais, no fone de ouvido mais perfeito, diretamente dentro do seu ouvido. Demais!

Confesso, eu pisquei em alguns momentos! :( Mas aproveitei o programa. O pós, foi muito bom também, com um passeio noturno pelo Millenium Park (com fotos no Cloud Gate, o tal Feijão) e depois jantar espetacular a uma quarteirão dali, no The Gage, indicado por uma amiga. Curso de 4 pratos, abrindo com um fondue de de queijo brie. Vale o passeio completo!

Buddy Guy's Legend
Este foi o local mais indicado pelos amigos, mas ao mesmo tempo, o descrito como o mais "sem graça" por alguns, por dizerem que era local pra turista. Na 2a feira fomos lá e chegamos alguns minutos atrasados em relação ao horário de início dos shows, que era 21 horas. Chegamos na pinta, pois quase não tinha mais lugar. Pedimos para dividir uma mesa e sentamos para ver um show incrível de blues e R&B em geral da Ronnie Hicks' Band. O guitarrista, um monstrinho, parecia bastante novo. O resto da banda já mais calejada.

Ronnie Hicks' Band no Buddy Guys Legend
Ao contrário dos outros lugares, este é feito para turista mesmo e tem a marca de um dos maiores blues men da história. Tudo novo, limpo, organizado, 10 dólares em dinheiro para entrar. Casa relativamente nova. Guitarras de Eric Clapton, John Mayer, Derek Trucks, Steve Ray Vaughan e seu irmão e ainda um ou outro nome que eu não conhecia.

Vimos o show até o fim, só babando pela qualidade musical das pessoas no palco. Ao final do show ficamos sabendo que aquele era uma noite de jam. Quer tocar? Coloca seu nome na lista, eles juntam a banda e pessoas comuns tocam algum blues definido ali na hora. E vou falar que pra algo decidido ali e para músicos não profissionais, o resultado foi muito bom.

Na saída, compras na lojinha da casa. Ao comprar um poster, o cara da lojinha diz: peraí, eu tenho esse pôster assinado pelo próprio Buddy Guy que esteve aqui na semana passada, e assim me tornei proprietário de um pôster com um autógrafo original do cara.

A casa é muito legal e mesmo tendo sido feita para turistas, eu recomendo. Chegue na hora também! Lá é proibido filmar, mas eu como eu não sabia, filmei um pouco, como podem ver abaixo.


Kingstone Mines
Kingstone Mines
Esta dica recebi de um amigo um dia antes de viajar. A mesma dica foi reforçada já durante a viagem por uma amiga da Marina. Durante o tour sobre os gângsters que fizemos, passamos em frente ao local que não nos pareceu muito agradável.

Diante das dicas e por ser nossa última noite, a qual precisávamos celebrar os dias incríveis que havíamos passado na cidade, decidimos ir ao Kingstone Mines.  Fomos jantar em um restaurante espetacular chamado RPM, o qual também recomendo muito.

Jantamos cedo, pois havíamos aprendido que não se devia chegar tarde a um show de blues. A recepção do nosso hotel nos disse que a casa teria música das 8 da noite até as 4 da manhã. As 8:30 da noite estávamos na casa, quase rolando de tanto comer e entramos pagando 12 dólares cada em dinheiro. Baita decepção: a casa estava vazia e os palcos sendo montados (sim, são dois palcos).

Pedimos uma cerveja, começamos a ficar meio morgados e o show do primeiro palco começou, com a Mike Wheeler Band. Espetacular! Blues animado, bastante B.B. King e um baixista BRILHANTE e cheio de energia boa. O mestre de cerimônia da casa é divertidíssimo e aproveitamos o início da noite. Depois de uma hora de show, a banda dá um tempo e começa o show do segundo palco.

Mike Wheeler's Band no
Kingstone Mines
Neste momento a casa já está lotada, todas as mesas cheias de gente e muita gente em pé dançando. Foi quase de uma hora pra outra. A segunda banda, coincidentemente era a mesma que vimos no Buddy Guy's Legend, a mesma Ronnie Hicks' Band, mas com outro baixista e com pianista liderando a apresentação. Pouco blues e muito Motown.

Ronnie Hicks' Band no
Kingstone Mines 
Assim as bandas iriam, em sessões de 1 hora, até as 4 da manhã. Saímos de lá 1 da manhã, depois de dançarmos um pouco, bebermos um pouco e nos divertimos demais! Foi a nossa melhor noite na cidade e nossa casa de blues preferida. A casa é grande, então simplesmente vá, independente da hora.

Chicago é uma cidade brilhante, com uma cena musical muito rica. O que eu posso dizer, é: vá conhecer e se precisar de dicas, me escreva!

Marina ajudou com dois vídeos da noite, sendo o segundo de uma música que eu adoro, que é 'Sitting in the Dock of the Bay', que começa torto, mas depois fica certinho. Não dá pra ver muito, mas aproveitem a música!

- Rock Me Baby

- Sitting in the Dock of the Bay

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